Biodiesel: Uma Oportunidade Econômica na Guerra Comercial

(Em um momento de incertezas globais, o Brasil pode transformar um desafio internacional em uma vantagem competitiva e econômica clara.)

 

Lucas Borges*

 

A intensificação da guerra comercial entre Estados Unidos e China, têm direcionado as importações chinesas de produtos agropecuários, beneficiando países como o Brasil. 

Em abril de 2025, por exemplo, as importações chinesas de soja pelo porto de Ningbo-Zhoushan aumentaram 32% em relação ao mesmo mês do ano anterior.

Esse cenário apresenta uma oportunidade para o Brasil implementar a mistura obrigatória de 15% de biodiesel no diesel (B15), anteriormente prevista para março de 2025, mas adiada devido à alta nos preços do óleo de soja no final de 2024. Com a recente safra recorde de 171 milhões de toneladas de soja, os preços recuaram, tornando o momento propício para essa mudança.

 

A adoção do B15 traria múltiplos benefícios na economia:

  • Redução da dependência de diesel importado, que representa cerca de 25% do consumo nacional, gerando economia de divisas e maior segurança energética.

  • Diminuição das emissões de gases de efeito estufa, fortalecendo os compromissos ambientais do país.

  • Aumento da oferta de farelo de soja, subproduto do biodiesel e insumo essencial para rações animais, o que pode baratear os custos na produção de carnes, um dos principais itens de pressão inflacionária no IPCA.

Vale mencionar: com a maior disponibilidade de farelo no mercado interno, há potencial para redução de preços na cadeia de proteína animal, impactando diretamente a inflação de alimentos. Esse efeito, por sua vez, cria espaço para uma política monetária mais branda no médio prazo, facilitando uma eventual queda da taxa Selic, hoje pressionada pelos níveis ainda elevados de inflação de serviços e alimentação.

Além dos ganhos internos, a estratégia permitiria ao Brasil diversificar suas exportações para a China, passando de grãos para produtos de maior valor agregado, como farelo e carnes, reduzindo a atual dependência de 73% das exportações de soja in natura para o mercado chinês. Isso fortalece o setor externo, melhora o saldo da balança comercial e traz estabilidade cambial, outro fator com impacto direto nos preços domésticos.

Então, eu vejo que essa postergação da implementação do B15 passou quase despercebida pelo debate público, apesar de seu potencial estratégico. Mais do que uma pauta setorial ou ambiental, trata-se de uma política com implicações macroeconômicas relevantes. Ao estimular a cadeia do biodiesel e reduzir a dependência de combustíveis fósseis importados, o B15 pode contribuir para mitigar custos logísticos e produtivos, atenuar pressões inflacionárias e, com isso, criar espaço para uma política monetária menos restritiva no futuro. Em um cenário internacional marcado por tensões geopolíticas e instabilidade nos preços de energia, o Brasil tem, nessa agenda, a oportunidade de converter vulnerabilidades externas em ativos econômicos. 

É um passo que alinha competitividade, sustentabilidade e responsabilidade fiscal.

 

*Lucas Borges, financista, especialista em Private Equity pela HBS e Financial Accounting pela LSBF.

Membro do Comitê de Empresas Familiares do Insper e Membro do Harvard Alumni Club Brazil (HACB)

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