Oportunidades e Desafios na Guerra Comercial EUA-China

Oportunidades e Desafios na Guerra Comercial EUA-China

(A diplomacia e a política econômica, alinhadas às exigências de um mercado cada vez mais competitivo e exigente, serão essenciais para garantir não apenas a estabilidade, mas também o crescimento sustentável do país.)

 

Lucas Borges*

 

A crescente tensão comercial entre os Estados Unidos e a China levanta questões cruciais sobre os impactos para o Brasil. Estamos preparados para enfrentar essas mudanças e, mais importante, para nos posicionarmos estrategicamente no cenário global? Esse foi o tema central do mais recente Jantar com Empresários do Grupo Mercado & Opinião, promovido por Marcos Koenigkan e Paulo Motta.

O evento reuniu Mansueto Almeida, Economista Chefe do BTG Pactual; Luciano Costa, Economista Chefe da Monte Bravo; Mário Mesquita, Economista Chefe do Itaú; e Felipe Salto, Economista Chefe da Warren Investimentos. Juntos, eles se dirigiram aos principais empresários do Brasil para discutir as oportunidades e os desafios que o país pode enfrentar.

 

Cenário Global e Impactos para o Brasil 

Nos últimos anos, o Brasil tem vivido um cenário desafiador devido às disputas comerciais entre os Estados Unidos e a China. Durante a primeira fase da guerra comercial, entre 2018 e 2020, o Brasil se beneficiou ao aumentar suas exportações de produtos agrícolas, como soja, para a China, que buscava alternativas para substituir os produtos norte-americanos. No entanto, se o conflito evoluir, os benefícios para o nosso país seriam cada vez mais limitados. Apesar de já termos uma posição significativa nesse mercado, a escalada das tensões pode gerar benefícios menores para o Brasil. Mário Mesquita, economista-chefe do Itaú Unibanco, alerta ainda que uma nova rodada de retaliações por parte dos Estados Unidos pode prejudicar as exportações brasileiras. Caso o governo norte-americano adote uma postura de reciprocidade, impondo tarifas sobre produtos brasileiros em resposta às altas tarifas chinesas sobre os produtos americanos, o Brasil poderá enfrentar uma pressão adicional.

Esse cenário de tensões comerciais externas se junta a desafios internos, que agravam a situação. O Brasil ainda enfrenta uma desaceleração econômica que impacta a confiança dos investidores e limita o crescimento. O Banco Mundial projeta que, em 2025, o PIB brasileiro crescerá apenas 2,2%, em um cenário de inflação elevada, o que resultará na manutenção de taxas de juros altas. Esse ambiente de desestímulo ao consumo, gerado pela alta de preços, reflete as políticas adotadas pelo Banco Central para controlar a inflação e estabilizar as expectativas econômicas. 

Para Felipe Salto, economista-chefe da Warren Investimentos, o impacto da gestão Trump sobre a economia brasileira não deverá ser tão significativo quanto se imagina. Salto acredita que a diplomacia qualificada e o fortalecimento da balança comercial serão essenciais para garantir estabilidade e competitividade ao Brasil em um ambiente global volátil.

É importante avaliar que embora as incertezas geopolíticas sigam em alta, o mercado ainda apresenta sinais positivos que podem beneficiar os ativos brasileiros. Luciano Costa, economista-chefe da Monte Bravo, observa que dados econômicos mais fortes podem gerar volatilidade no curto prazo. No entanto, espera-se que a tendência de alta se consolide com o início do ciclo de corte de juros pelo Federal Reserve (Fed) e outros bancos centrais, previsto para o segundo trimestre deste ano. Essa política pode tornar os ativos brasileiros mais atraentes para investidores internacionais, ajudando o país a se recuperar parcialmente das tensões externas.

Essas tensões e a volatilidade da economia brasileira não se devem apenas aos fatores externos. Mansueto Almeida, economista-chefe do BTG Pactual, destaca que o principal desafio interno está relacionado ao déficit fiscal e à gestão da dívida pública. A continuidade das reformas fiscais e o controle da dívida pública serão fundamentais para garantir a estabilidade econômica no curto prazo. Já no médio prazo, ele pondera que o grande desafio será a continuidade e a educação da nova geração no mercado de trabalho, alinhando-a às novas exigências dos setores que demandam maior inovação e sustentabilidade. 

 

Ponto em Comum

Na opinião dos quatro especialistas, apesar dessas dificuldades, o Brasil ainda encontra diversas oportunidades no cenário global. A diversificação de mercados e produtos será essencial para reduzir os riscos impostos pela guerra comercial entre os EUA e a China. Além disso, fortalecer a diplomacia e a política econômica será crucial para garantir que o Brasil continue a avançar no cenário internacional, mesmo diante da volatilidade global. O fortalecimento de acordos comerciais com países da Europa, América Latina e outras regiões pode ajudar a compensar perdas com os principais parceiros comerciais, além de reforçar a posição do Brasil no mercado global. O Brasil se encontra em uma posição estratégica para aproveitar as oportunidades, mas para isso será necessário adotar uma postura proativa. A diversificação dos mercados, a busca por novos acordos comerciais e o fortalecimento das reformas internas são passos cruciais. A diplomacia e a política econômica, alinhadas às exigências de um mercado cada vez mais competitivo e exigente, serão essenciais para garantir não apenas a estabilidade, mas também o crescimento sustentável do país.

 

*Lucas Borges, financista.

Membro do Comitê de Empresas Familiares do Insper e Membro do Harvard Alumni Club Brazil (HACB)

 

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